domingo, outubro 08, 2006

As Mulheres


Não pretendo com isto girar em torno da emancipação feminina, nem das desigualdades existentes entre sexos, nem das ameaças que teimam enfraquecer-nos, nem das raízes sexistas que já foram e continuam a ser o pilar em muitas civilizações (e aqui o grau de desenvolvimento social não influência o grau de “ignorância” nesta questão).
Quero depositar todas as minhas esperanças, quero acreditar na NOSSA força e determinação...sou MULHER e por isso vou esquecer todos os problemas que me inquietam, todas as situações reais e horripilantes que me queimam o sangue…Vou dedicar todo este trabalho às Mulheres e prestar-nos a Homenagem… Vou recarregar a minha alma, vou executar um ritual, vou quebrar barreiras, vou derramar-me e vou renascer… serei invencível.
Não serei por isso uma sonhadora, nem o quero ser tão absurdamente…porque sei que em Nós nem tudo é perfeito, nem o queremos ser…, os defeitos constroem-nos da mesma forma que as qualidades. Crescemos com todos os prós e contras, muitos contras, mas o resultado é sempre o mesmo - tornamo-nos Mulheres e por isso, com uma capacidade extra de força para lidar e ultrapassar as situações mais adversas.
Somos vida e temos a capacidade extraordinária de a conceber, somos Mãe Natureza, somos um habitat, somos o mundo, e criamos o começo… alimentamos paixões, amores eternos, e somos musas dos mais belos poemas…o Mundo muda à Nossa passagem. Somos as “enviadas” do AMOR na Humanidade, LUTAMOS por nós e por todos, marcando-nos dia-a-dia no rosto, na alma, marcas da intempérie, lembrando-nos de tudo o que já vivemos. Por isso somos também sofrimento, angústia e dor, sem ressentimento ou resignação…não nos culpabilizamos mas também não nos vitimamos…preferimos ficar, lutar, insistir, nunca desistimos…mas desanimamos com o facto de muitos não terem nascido com os nossos olhos – há os cegos e os que não querem ver... (Este último Handicap social não é “genético”, por isso…o que parece ser inofensivo e sem repercussões acaba por, mais tarde, ser usado contra nós próprias…).
Vivemos no dilema constante da vida de termos em nós o bom e o mau, o espinho e a rosa, o azedo e doce de sermos Mulheres…e aqui o mau, o espinho e o azedo se traduz no meio que nos rodeia, na realidade que nos confronta ao sermos rotuladas e tratadas como o sexo fraco…o nosso nome espalha-se sem valor e pronuncia-se sem respeito tanto pelo “macho” como até por algumas “fêmeas”…(ao utilizar estas expressões não quero ofender a espécie animal, mas somente enquadrar estas pessoas no quadro natural que lhes pertence – uma espécie em vias de extinção).
Propus-me inicialmente a não falar no que me inquieta, e por muito que eu tentasse não havia forma de contornar, é impossível, e sendo eu Mulher, não falar nisso. Continua e continuará a ser a preocupação central e a busca incessante das Mulheres na actualidade – acabar de vez com esta luta desenfreada entre sexos e ocupar o lugar a que temos direito nesta sociedade. Espero no entanto e com todas as minhas esperanças que num futuro próximo alguém seja capaz de escrever sobre as Mulheres sem ter de se inquietar e revoltar com a sua própria condição no mundo.
“Haviam de gostar de me atravessar com o olhar, mas nada é mais opaco do que a transparência absoluta.” A Mulher é um diabo, é uma deusa, é um desespero, é uma luz, é um anjo, é uma guerreira, é uma prisioneira, é um objecto, é uma célula, é uma perdida, é um coração, é uma melodia, é uma faca, é um aroma, é noite… a Mulher também sou eu e eu penso em ir pelas vias principais, não me meto em vielas, não me escondo, não vou dar a volta, vou sempre em frente e sou o que está à vista, estou aqui e não pretendo ir embora.

(Imagem de Beksinski)

1 Comentários:

Blogger Thor Mentor disse...

boa posta... é por estas e por outras que eu gosto de gajas...

Beijo grande

terça-feira, outubro 24, 2006  

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